Olhares sobre Wesley Duke em Porto Alegre

O erótico e o profano na obra do artista paulistano em exposição na Fundação Iberê Camargo

A obra de Wesley Duke Lee nada mais é do que uma maneira de expressar um sentimento, a personalidade do artista, a visão sobre um tema da sociedade ou ela por inteiro. É o que vê em 38 quadros e pranchas no quarto andar da fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, na mostra Wesley Duke- A zona: A vida e a morte, que fica em cartaz até o dia 27 de outubro.

Com curadoria de Ricardo Sardenberg, a exposição conta com obras feitas nos anos 1960 pelo artista paulistano descendente de americanos por parte de pai, daí o sobrenome anglo-saxão.

De fato, as obras têm a mulher como ponto central. Uma em especial: Jean Harlow, sex symbol hollywoodiana dos anos 1930 (ela é tema central de 30 quadros da exposição). As pinturas de Wesley transmitem paixão, adoração e obsessão pela atriz estadunidense que faleceu tragicamente aos 26 anos. Os trabalhos trazem, em sua maioria, a atriz em poses sensuais e eróticas, até mostrando uma representação de suas partes íntimas. As imagens lembram também os filmes de Hollywood da época, sempre com a “donzela indefesa” e “o herói galã” ao seu lado.

Muitas das obras realmente aparentam terem algo de inacabadas. Em uma delas, apenas o cabelo ou o vestido da mulher estão representados. Em outras, vê-se frases escritas pelo autor em português e inglês. Há até mesmo dois desenhos que, aparentemente, não fazem sentido juntos, mas que estão no mesmo quadro.

Mas essa loucura ou alucinação transmitidas nas obras pode ter uma resposta. Segundo a curadoria da exposição, em texto apresentado no catálogo da exposição, todas essas obras foram feitas após as primeiras experiências de Duke Lee com o alucinógeno LSD. Wesley explica a importância dessa vivência em seus trabalhos no livro de Cacilda Teixeira, Wesley Duke Lee: um salmão na corrente taciturna. “O que virou tudo foi a experiência lisérgica. É, a gente tem que dizer essas coisas mesmo que seja proibido. Quando tomei o lisérgico é que saiu tudo isso aqui, do dia para a noite”, declarou o artista a sua biógrafa.

Mas como teria sido a recepção do público às obras de Wesley nos anos 1960, época do álbum de Jean Harlow agora exposto na Fundação Iberê Camargo? A resposta é facilmente imaginável: Duke Lee sofreu com a censura, principalmente nos anos da ditadura militar. Na Bienal de São Paulo, em 1965, o artista teve uma de suas obras censurada por apresentar pelos pubianos.

Pelo panorama sócio-político atual, tem-se a impressão de que talvez o artista teria as mesmas dificuldades hoje em dia, já que nos últimos tempos passamos a vivenciar “tentativas” de censura. Um exemplo disso foi o caso da exposição Queermuseu (polêmica abordada pela Beta Redação em setembro de 2017 — colocar hiperlink), ou recentemente o recolhimento de HQs que abordavam a diversidade, determinado pelo prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB- RJ), na Bienal do Livro desse ano na cidade.

Fica claro, para quem visitar a exposição, que Wesley Duke Lee passeia constantemente por assuntos como o erótico e o profano, além de transitar por alucinações. Cabe ao público entender a importância (ou não) de discutir esses assuntos, mas sempre de forma livre.

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